Flores
amarelas dos ipês da
lagoa e o verde vibrante do bambuzal adornando nosso ponto de encontro, pequeno
banco de madeira camuflado parcialmente pela folhagem. Gemidos de bambus e
uivos do vento tímido do entardecer oferecendo um contraponto à calma da tarde.
Crescendo ao aproximar-se à figura diminuta de uma jovem mulher caminhando, deliberadamente pisoteando
gravetos e machucando
flores. Notamos que carregava algo aninhado dentro dos braços cruzados, um livro
chamado: O Homem Medíocre, do argentino José Ingenieros. Éramos colegas de escola e o encontro não era furtivo, nem
romântico. Passaríamos
muitas tardes assim, viajando com as palavras sábias do autor.
Conversávamos sobre a mediocridade presente na nossa
sociedade. Falávamos daqueles envolvidos em rotinas previsíveis. Pessoas
prudentes, pragmáticas e sem ideais. Incapazes de sonhar, de aventurar além dos
instintos e necessidades do momento. O homem medíocre é uma sombra projetada
pela sociedade. É por essência imitativo e está perfeitamente adaptado para
viver em rebanho, repetindo rotinas, preconceitos e dogmatismos
reconhecidamente úteis para a domesticidade, afirma José Ingenieros.
Ensinamentos que se transformaram em uma estrada que percorreríamos pelo resto
das nossas vidas. Quando nos reencontramos, trocamos sorrisos cúmplices sobre
nossas trajetórias. Sabemos que nunca fomos o que o filósofo descreveu.
Nos transformamos em uma sociedade temerosa do desconhecido,
a desconfiança escondendo mil preconceitos. Olhamos para o passado procurando
uma justificativa para o marasmo ético, sem considerar os benefícios da
sabedoria dos anciões. Fantasmas projetados nas opiniões alheias. Afogados em
mediocridade moralmente perigosa, uma mediocridade nociva às vicissitudes do
momento. Líderes de todas as castas e tendências do terreno baixo da
moralidade, medíocres que gostam das crises, pois é nelas que podem brilhar...
Palmarí H.
de Lucena é membro da União Brasileira de Escritores